O Dr. Germano Amorim em Coimbra na greve Académica de 1907.
“Os lentes não são idolos ante os quaes os estudantes se curvem medrosos como os escravos antigos ou como os ignorantes… modernos. E se querem que sejam mumias, compete á mocidade protestar contra quem a obrigue a dobrar o joelho deante do que representa o passado em nome do presente e do futuro; em nome do progresso e da civilisação; em nome da Vida e da Humanidade. ”
Excerto de "O Combate", de 9 de Março de 1907, a propósito da Greve Académica da Universidade de Coimbra.
As universidades foram, ao longo da História, palco de movimentos de resistência organizada aos regimes políticos. Em Portugal são conhecidas algumas greves académicas, produtoras de forte impacto, como as de 1962 ou 1969. Este tipo de acontecimentos tem contudo registos históricos mais antigos.
Em 1907 o nosso país era governado por João Franco, conhecido por ser uma figura ditatorial. Vivia-se num clima politicamente tenso. Na Universidade de Coimbra, as agitações eram frequentes, ora a favor, ora contra o governo. Neste ano, a 1 de Março, apresentou “Conclusões Magnas” em provas de doutoramento, o licenciado José Eugénio Dias Ferreira. Contra o que seria de esperar foi reprovado. Este facto, tido como político e não académico, levou a uma greve geral dos estudantes, sendo apedrejados e insultados publicamente vários professores, nomeadamente membros do Júri, que tem mesmo de se esconder. Estes actos hostis provocam a reacção do governo. No dia seguinte, é ordenada a suspensão dos trabalhos escolares e consequente encerramento da universidade. Por seu lado, alguns professores republicanos, solidarizam-se com os estudantes, politizando o movimento. No dia 4, mais de trezentos estudantes, número considerável na época, viajam de comboio até Lisboa para procurar apoio. A 1 de Abril, o Conselho de Decanos da Universidade de Coimbra, expulsa sete estudantes, o que provoca a ira dos restantes. No dia 4 reabre a universidade, apenas para registar a greve geral dos estudantes. O conflito vai provocar mesmo reacção da oposição política, seja na imprensa, seja no Parlamento. Durante os meses de Março e Abril, o tema domina a Comunicação Social e a política nacional. A greve, reprimida com dureza pelas autoridades oficiais, mobiliza estudantes, mais tarde figuras públicas, como Trindade Coelho, Germano Amorim e Ramada Curto, e acaba por estender-se a outras universidades.
O jornal "O Combate", de 9 de Março de 1907 relata que … [A propósito da reprovação do Dr. José Eugénio Dias Ferreira] A academia portou-se altamente digna protestando contra essa reprovação, na qual vê mais um facto, além de tantos outros que há uns poucos d’annos se veem succedendo, demonstrativo do caracter inquesitorial… Não, José Eugenio Ferreira não foi reprovado por não saber. Foi reprovado por saber demais… por ter a ousadia de erguer bem alto o seu pensamento… O protesto dos academicos conseguirá iniciar um novo regimen? Estamos todos em expectactiva… Se houve uma iniquidade, como houve quanto ao nosso entender, que deu logar á revolta da academia é contra a iniquidade que o governo tem de voltar a sua força.
No mesmo jornal, de 6 de Abril de 1907, podemos ler que - "O governo leva por deante o espirito vingativo e auctoritario, mandando expulsar estudantes e apontar contra os que protestam as espingardas do exercito… Abre-se a Universidade e tenta-se obrigar os estudantes á pratica dum acto de rebaixamento, de indignidade, de covardia, já por incitamento aos paes desses estudantes avivando-lhe o mesquinho egoísmo interesseiro quanto a um anno perdido, já descendo á baixeza de insinuar – como foi insinuado no órgão franquista – que os lentes seriam benevolentes nos exames! Ao que se chega!!! [Mais abaixo vaticina que] … o conflicto academico será dentro de poucos dias, talvez dentro de poucas horas, uma questão nacional!"
Alguns excertos: http://arepublicano.blogspot.com/2007/04/pinto-quartin-e-greve-acadmica-de_06.html
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